Saturday, December 30, 2006

preparativos para a posse(ssão)...

Tenho assistido, no Brasil, a uma degradação paulatina da nossa sociedade. Essa constatação eu a faço desde quando voltei para cá, em 1985, vindo de uma estada de cinco anos em outro país, onde fui buscar novos conhecimentos para, pensava eu ingenuamente, aplicá-los na melhora do País, na tentativa de contribuir para fazê-lo crescer e ser competitivo. Voltei para cá para difundir esses conhecimentos entre outros iguais a mim e, assim, dizia a minha intuição, em breve o Brasil poderia disputar um lugar ao sol entre os países do primeiro mundo. Não digo chegar lá, pois sempre cri que a distância era muito grande para ser vencida em tão pouco tempo. Em algumas áreas, o Brasil se tornou, de fato, referência. O que me faz acreditar, lamentavelmente, que falhei fragorosamente nas minhas intenções, pois, das áreas em que ele é referência, não está a minha. Mas isso é uma questão muito particular, da qual pouparei os amigos... Voltemos à questão básica.

O Brasil se degradou com o tempo. Pode ser que, antes, ele já vinha se degradando, mas eu não havia me apercebido dessa tendência. Depois de vivenciar outra cultura e outra realidade, ao voltar para cá descobri tal tendência e tudo o que vejo é que o abismo aumenta a cada dia, inexoravelmente. Mas, o que é incrível nisso tudo foi identificar uma aceleração do processo nos últimos quatro anos. Saímos da situação de um país econômica e culturalmente atrasado para um outro onde, além do atraso original, aprofundaram-se a degradação da moral, da ética, da vergonha nacional e da justiça social. Quais razões nos levam a essa degradação? Precisamos identificá-las para saber se elas satisfazem os códigos e padrões de conduta aos quais deveríamos nos ater.

No Brasil de hoje, existe apenas uma tênue diferença entre os conceitos do que é a mentira e do que seja a verdade. Para o brasileiro que testemunhou, por meses a fio, mensalões e quebras de sigilo bancário, assistindo a depoimentos dados pelos envolvidos, quase sempre deprimentes unicamente para o espectador, mentira e verdade parecem ser conceitos quase que sinônimos. Já há algum tempo que o uso da palavra honestidade, anteriormente obrigatória ao se descrever o caráter de uma pessoa, é feito como um adjetivo, nem sempre comprovável. Os interesses particulares imediatos se sobressaem em relação aos interesses públicos, de mais longo prazo. Pensa-se no agora e deixa-se de lado o futuro. E, ao deixar o futuro, deixa-se, também, nas mãos daqueles que, em alguns anos, assumirão o País a tarefa de recomeçar. Este é um grande mal do brasileiro: ele está sempre recomeçando, pois as gerações passadas não foram capazes de resolver os problemas dela e os empurraram para que a próxima geração os resolvesse. Como a maioria desses problemas é cumulativo, damo-nos sempre de frente com aqueles que já deveriam ter sido equacionados e resolvidos por nossos antepassados. A culpa não é de alguém em particular, mas da nossa cultura, ou da ausência dela. É por isso que considero o Brasil o País do que já foi. Montou-se, no passado, um sistema educacional para a população. Por motivos naturais, a população cresceu e nada foi feito para que o sistema educacional acompanhasse este crescimento. Como o problema não foi resolvido, ele está aí para que nós proponhamos uma solução. Ou ele se acumulará para a próxima geração. Assim acontece com cada uma das outras áreas em que claudicamos na solução onde não deveríamos.

É evidente que ainda existe gente que se guia pelos padrões antigos, civilizados. São poucos, esses. Credibilidade, honradez, coerência de conduta, pontualidade, gentileza, respeito ao próximo e a seus bens, ou ao bem público são termos desconhecidos da nossa população, mesmo entre os mais educados. Ensine o seu filho a ser honrado, pontual, gentil e respeitador e voce estará criando um ET para os nossos padrões atuais. Darwin explica que um ser com essas características em seu caráter não sobrevive na nossa Sociedade, pois, nela, ele é um gen recessivo. Entretanto, seria a saída ensiná-lo a ser desonesto, sem honradez, incoerente na sua conduta? Não acredito. Talvez ele sobrevivesse no Brasil, mas não poderia conviver com outros povos civilizados, um dia que fosse, longe das nossas "fronteiras" culturais.

E chegamos aqui, para a posse de um presidente, pela sua segunda vez. Ele é alguém que encarna com exatidão o perfil do brasileiro comum: não gosta de ler; não fala direito; não entende o mundo que o cerca além das metáforas e o organiza em estruturas sindicais; é leigo em tudo, exceto em esperteza; impontual; a honra lhe foge e até aquela inerente ao cargo ele perdeu; incoerente; desrespeitador; interesseiro; egoísta e centralizador; farrista; preguiçoso; aproveitador. Esse é o brasileiro. Ao mirar-se no espelho, no último dia 29 de Outubro, ele se viu e escolheu quem o havia de representar no mais alto posto da Nação. Quarenta milhões discordaram dessa representação e votaram em outro candidato, mas, mesmo entre esses quarenta milhões, existem aqueles que se enquadram em parte da descrição dada acima. Uma ínfima minoria de menos de 10% desses quarenta milhões não pode ser descrita assim. Eles não são brasileiros.

Para ser brasileiro, além de satisfazer os requisitos acima descritos, é preciso acreditar que o País caminha bem, a Economia vai bem, os apagões foram ocasionados pelos outros brasileiros que não acreditam na propaganda da Administração. Precisa, ainda, aceitar as afirmações de que o mensalão não existiu, que as cartilhas foram entregues, que os fundos de pensão são instituições de pouca sorte, que a publicidade oficial jamais mente. Caminhamos para mais quatro anos da mesma conduta, pelos mesmos homens, com os mesmos propósitos. Caminhamos para o desfecho, em quatro anos, da nossa iniciação ao caos, da nossa condenação ao subdesenvolvimento eterno, da nossa declaração de inanição perpétua. Tudo começará em 01/Jan/2007.

3 comments:

Anonymous said...

Gil, me arrepiou ler essa postagem, não tenho palavras para descrever.... magistral !!!!!!!!!!

Terei q divulgar, pq entendo q todos devem ler.

Obrigada pela amizade e é maravilhoso encontrar tão brilhantemente descrito os nossos sentimentos, dúvidas e indignações.

Ricardo Rayol said...

"no Brasil, a uma degradação paulatina da nossa sociedade." interessante dizer isso pois o nosso audaz e intrépido molusco disse o mesmo em seu discurso. Referenciou-se aos atentados no Rio é claro. Afinal Cabral é baba-ovo dele. Só esqueceu de dizer que a percepção de impunidade é culpa dele

patricia m. said...

Gilrang, obrigada amigo, por me classificar entre os NAO BRASILEIROS. Eu nao compactuo com essa pouca vergonha, eu nao sou desonesta, eu nao acredito que o pais vai bem. Eu herdei essa mixordia, e nao quero gastar o esforco de uma vida de trabalho em vao, por isso me mudei. Nao sao somente pobres que cruzam o deserto do Arizona nao, muitos brasileiros bem educados e inteligentes estao saindo do pais e entrando em outros desenvolvidos pela porta da frente. Vamos contribuir com o nosso trabalho e a nossa dedicacao para o futuro de outras nacoes. Azar do Brasil...